Operação policial completa uma semana hoje (10). Grupos de dependentes levam medo e transtornos para outros pontos da cidade
Há uma semana, a Ação Integrada Centro Legal ocupa ruas do centro de São Paulo, conhecidas como Cracolândia. Essa é a primeira parte da operação que busca livrar vias como a rua Helvétia e as alamedas Glete, Dino Bueno e Cleveland do livre comércio e uso do crack, consumido nas calçadas ou casarões e terrenos invadidos da região. Após essa fase virão os maiores desafios para a operação, que será tratar os usuários e impedir a criação de novos pontos de consumo da droga na capital paulista.
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Problema disseminado: Em São Paulo, até piscinão é usado como cracolândia
'Dor e sofrimento': São Paulo usa 'dor e sofrimento' para acabar com Cracolândia
Após o início da ação na Cracolândia, grupos menores de usuários vagam por ruas do centro da capital. Qualquer aglomeração maior de usuários é dispersada pela polícia com bombas de efeito moral. Assim, os grupos se separaram, mas o consumo e o medo da população também se espalharam por outras áreas.
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Após o início da ação na Cracolândia, grupos menores de usuários vagam por ruas do centro da capital. Qualquer aglomeração maior de usuários é dispersada pela polícia com bombas de efeito moral. Assim, os grupos se separaram, mas o consumo e o medo da população também se espalharam por outras áreas.
Foto: Carolina GarciaAmpliar
Usuários consomem crack por volta das 12h desta segunda-feira na av. São João
A população de dependentes químicos em pontos do bairro de Santa Cecília, também no centro, mas a cerca de 2 quilômetros da ruas principais da Cracolândia, foi agravada nesta última semana com a migração dos usuários. Na segunda-feira (9), quando a ação entrou no sétimo dia, cerca de 30 jovens e adultos consumiam crack livremente na avenida São João.
O novo cenário da avenida, na altura da rua Apa, assusta comerciantes da região que já sentem reflexo nas vendas e lidam com a sujeira a agressividade dos novos vizinhos. Proprietário de uma loja de móveis restaurados, Roberto Laranjeiras, de 50 anos, afirma que nasceu na região e não deixará seu comércio ser tomado pela criminalidade.
“Não vou desistir. Abro a minha loja todos os dias com a ideia de que preciso resistir e não deixar a criminalidade tomar conta. Se saio daqui, eles vão dominar a região. Não podemos deixar”, defende o empresário que mantém sua loja há dois anos. Laranjeira conta que muitos usuários tentam saquear lojas que são mantidas fechadas já que seriam alvos fáceis. “Ele têm medo e não enfrentam os lojistas”.
Foto: Carolina Garcia
Dependentes consomem droga em frente a loja de móveis
Para o empresário, a região da avenida São João já sofre com a presença de dependentes químicos há muitos anos. Porém, com a operação na Cracolândia, o número dos viciados e traficantes triplicou. “Foi tudo muito rápido e a cada dia chegam mais. São várias pessoas indo e vindo e de todas as idades”.
Reflexo nas vendas
Caetano da Silva, de 46 anos, explica que suas vendas caíram mais de 50% e até sua rotina foi alterada. “Preciso levantar mais cedo todas as manhãs para limpar minha calçada. Ela passou a ser banheiro deles. Não os culpo, só acho que não tenho que passar por isso”, disse. “Esfreguei tudo aqui por mais de uma hora e o cheiro não sai, é horrível.”
Por volta das 12h, Silva recebeu sua primeira cliente do dia. A dona de casa Cristiane Alves da Mota, de 43 anos, já tinha planos de comprar móveis e pensou que a presença dos usuários não afetaria suas compras. “Definitivamente não é o cenário que via por aqui, mas quero acreditar que a ação da PM não acabou. Essas pessoas precisam de tratamento e não ser tratadas como animais, tocadas para todos os lados”, defende.
Durante coletiva de imprensa realizada na semana passada, a PM reconheceu que poderia ocorrer migrações durante a operação. Somente em uma segunda etapa, com data de início ainda não prevista, a PM vai incentivar consumidores da droga a procurar ajuda e deixar as ruas. No momento, o objetivo principal é quebrar o tráfico de droga e evitar aglomerações de viciados e traficantes.
“Em primeiro lugar, vamos impedir que a droga chegue”, havia afirmado o coronel Pedro Borges, comandante do Comando de Policiamento de Área Metropolitano 1, responsável pelo Centro da capital, na apresentação da operação policial.
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O problema: Em meio à epidemia de crack, Brasil fracassa em tratamento para dependentes
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A segunda meta da operação é restabelecer a ordem urbana, para só então, em seguida, criar um ambiente seguro para que assistentes sociais e médicos possam oferecer assistência social e de saúde integral aos dependentes.
Comerciantes da região, que pediram para não ser identificados, afirmaram que nós próximos dias iniciarão um abaixo-assinado pedindo providências. Segundo eles, a ação precisa ser revista e “limpar a Cracolândia” não resolverá o problema.
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