A Privataria Tucana: Acabei de fechar o livro.
Por: Joana Gouvea, no comentário deste post aqui
03/01/2012
Foi com um misto de indignação, revolta e impotência que fechei a última página do livro “A Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Jr.
Que a investida tucana sobre a história do Brasil não oferece um mínimo de densidade ideológica eu sempre soube. Não há qualquer qualificação teórica que possa embasar os acontecimentos mais significativos e/ou os mais comezinhos que se deram naquele tempo e sob a égide daquela gente que teve a audácia de governar meu País.
Aqueles tucanos de alta plumagem, ao formular e levar a cabo suas idéias de privatização do patrimônio público dos brasileiros, não se valeram verdadeiramente das teses próprias dessa concepção de mundo.
Apesar da ajuda de alguns teóricos tupiniquins mal ajambrados (ou até toscos) e da imprensa loteada por seus próprios interesses vis, eles não se pautaram por uma defesa robusta do Estado Mínimo, por exemplo, ou pela defesa na crença da superioridade do capitalismo em sua versão neoliberal; ou pela certeza da falência de conceito e de natureza das instituições sobre as quais o Estado brasileiro estava, até então, alicerçado; e sequer sobre alguma tentativa de inserção de nossa economia nos patamares de um primeiro mundo que eles sempre consideraram superior. Aquele primeiro mundo que quem viveu, viu.
Não havia ali um conceito que, errado ou não, excludente ou não, fosse sincero. Não era uma luta entre concepções rivais, portanto. Nunca foi. Porque não havia verdadeiramente, vinda deles, uma proposta. Não havia, daquela parte que duelou pelo predomínio de suas concepções de país, de economia e de política, o necessário contraponto ideológico. Não havia, como não há, vindo deles, um estatuto sobre o qual se debruçar para questionar.
Mas eu, simples mortal postada do lado de cá, apenas um número no recenseamento, continuava lutando contra um conceito e um estatuto. Lutava contra uma visão de mundo. Empunhava minha bandeira e bradava por uma sociedade justa e igualitária, onde pudessem caber todos: inclusive eles! Lutava pela esquerda. Pela inclusão.
Que bobagem. Eu sempre soube, mas agora foi estatelado: não havia luta de classes. Por isso sempre foi tão difícil lutar. Sem regras mínimas, até a guerra é impossível. O que resta é o massacre, o franco atirador, o psicopata solto no pátio.
O que eu já sabia, mas imaginei nunca ver escancarado e explicitado, era essa sentença tão bem formulada: eram apenas ladrões. Corsários. Piratas. Meliantes.
Cuja única concepção de Brasil era (e é) o de quintal frutífero onde aportar como poder significa usurpar para si mesmo. Tão simples e tão perverso.
Não venderam meu patrimônio por concepção ideológica. Venderam meu patrimônio para se locupletar.
O uso das instituições brasileiras na forma de empregados domésticos – Banco Central, BNDES e outros para lavar na cara deles o dinheiro usurpado; o desrespeito aos órgãos fiscalizadores – Polícia Federal, Ministério Público, Judiciário (e seu aliciamento, por vezes); e sobretudo, o desprezo pelo povo, feito marionete nas mãos da imprensa também golpista, é de dar vômito.
Não se diferenciam das tribos mais primitivas – entretanto contemporâneas – que estripam com facões guerreiros adversários ou estupram suas mulheres para “limpar” a espécie. Não têm qualquer diferença daqueles ditadores que dizimam o país, se necessário, para contrabandear “seus” diamantes. Nem tampouco se diferenciam daqueles que, credos vários, se acham escolhidos.
São irmãos siameses de Fernandinho Beira Mar e Nem. São piores: são homicidas coletivos. Porque se a legislação hoje, sabiamente, tipifica como homicida aquele que dirige embriagado e causa morte no trânsito, pela “intenção premeditada”, assassinos mais cruéis são aqueles que, com “intenção premeditada”, lesam o patrimônio de todo um povo, roubando-lhes os bens e entregando-os a interesses próprios e a interesses outros, pouco se importando com seu futuro. E especialmente com o fim premeditado de obter fortunas pessoais. Fortunas que jamais alcançariam individualmente nem em cem vidas de trabalho digno e diário.
São gatunos cuja atividade, se ora persistir em prosperar depois de tamanha denúncia edificada sobre documentos sólidos, verdades irrefutáveis e corajosa denúncia, maculará para sempre o Parlamento e o Judiciário brasileiros.
Essa avassaladora revelação, de lavagem de dinheiro público, que enriqueceu a elite que governou meu país e que, para além de privatizar a coisa pública, tratou o patrimônio público como bem privado, tem que ter a devida resposta das instituições que, ainda sólidas, persistem.
Doa a quem doer.
Eu e meu número no recenseamento clamamos algemas tanto para o crime quanto para a desfaçatez.
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