Apesar das recentes manifestações de rua exigindo melhoras dos serviços públicos, contra tarifas e pedágios altos e contra a corrupção, o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) parece gostar de viver perigosamente, a ponto de desafiar a insatisfação popular.
A Sabesp, sob controle do governador, concluiu recentemente um processo de licitação para gastar R$ 87 milhões em campanha publicitária – no mercado, comenta-se que o gasto anual da empresa deverá alcançar os R$ 120 milhões.
O problema é que a empresa tem clientela cativa e é monopólio na sua área de conc
essão. Ou seja, simplesmente não precisa anunciar como se fosse uma empresa de refrigerantes. Anúncios da Sabesp são inúteis para vender seu produto: água e esgoto tratados. Logo, não há despesa mais provocadora de protestos do que esta. Seria muito mais útil e necessário usar essa verba para reduzir a conta de água ou investir mais na própria rede de abastecimento de água e de tratamento de esgoto pela companhia.
O fato lembra o que fez seu antecessor, José Serra. Em 2009, ano pré-eleitoral, como agora, Serra fez uma maciça campanha publicitária na TV, com tamanho desprezo pelo dinheiro do contribuinte paulista que sequer restringiu a propaganda a emissoras do estado de São Paulo.
Fez muito mais, espalhando a campanha por praticamente todo o território nacional. O telespectador do Amapá que consome água da Caesa (Companhia de Água e Esgoto do Amapá) e está escandalosamente fora da área de concessão da Sabesp assistiu propaganda da empresa paulista.
Em 2009, o caso despertou a atenção do TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro) como possível propaganda antecipada de José Serra às eleições de 2010. Como Serra ainda não era oficialmente candidato à presidência na época, o TRE-RJ não pôde abrir processo por crime eleitoral. Teria cabido, talvez, ao Ministério Público paulista um inquérito por improbidade administrativa.
Agora Alckmin está a ponto de repetir o feito. Desta vez é improvável que gaste o dinheiro em rede nacional, já que seu horizonte político é reeleger-se no próprio estado de São Paulo.
A conta de propaganda da Sabesp é dividida entre três agências e, curiosamente, entre os vencedores está a Duda Propaganda, agência de Duda Mendonça, publicitário reputadíssimo, sem dúvida, inclusive em campanhas eleitorais.
Como se não bastasse tudo isso, um colunista da velha mídia, Lauro Jardim, anunciou os vencedores da licitação antes de o resultado ser conhecido, dando a entender que o processo de licitação poderia estar viciado.
Logo, portanto, a juventude que tomou as ruas da capital paulista para protestar contra a corrupção, daqui a pouco deverá expor sua ira contra o governador e a Sabesp. Será?
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