Macumba para o Rodoanel Norte
O polêmico projeto do governador Geraldo Alckmin para o trecho norte do Rodoanel será submetido a uma macumba “braba” na próxima semana. O despacho será realizado por alguns dos principais intelectuais brasileiros, que assinam um manifesto contra a realização das obras.
De corpo-fechado ou não, Alckmin terá que lidar com a oposição de Juca de Oliveira, Almir Sater, Maria Bonomi, Raí de Oliveira, Aziz’Ab Saber, José Celso Martinez Correa, Araquém Alcântara, Maria Adelaide Amaral, Denis Carvalho, Ivaldo Bertazzo, Fulvio Stefanini, Silvio de Abreu, Fabio Konder Comparato, Raquel Rolnik, Rosa Kliass, Aziz Ab’Saber – este último, por exemplo, responsável por inovar a classificação de ecossistemas no Brasil.
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No manifesto, os intelectuais apontam que ainda não há uma avaliação isenta sobre os prejuízos causados pela obra – serão construídos 44 km, com término previsto para 2014. O manifesto argumenta que as obras serão prejudiciais ao Parque Estadual da Cantareira, que abriga todo o ecossistema da Serra da Cantareira, tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico (Condephaat), a partir de uma iniciativa do próprio Ab’Saber em 1983.
Além disso, o documento alerta para o grande número de desapropriações que serão necessárias. “São mais de 20 mil pessoas, várias delas com raízes fincadas na região, que de uma hora para outra terão que sair de suas casas e abandonar suas referências”, escrevem.
O custo total previsto é de 6,51 bilhões – 1,72 bilhão de reais do governo federal, 2,79 bilhões de reais do governo de São Paulo e 2 bilhões de reais obtidos por meio de um empréstimo do BID – que, inclusive, abriu uma investigação para apurar possíveis problemas no projeto.
O manifesto, intitulado “Contra o Rodoanel, a favor de São Paulo” será lançado na segunda-feira 3 de outubro, às 19h, no Teatro Oficina – símbolo da vanguarda artística dos anos 70 e quem tem José Celso Martinez Corrêa (diretor de teatro que também assina o manifesto) como liderança. O evento promete uma “macumba antropófaga”, em referência ao movimento antropofágico de Oswald Andrade e outros modernistas do início do século XX.
O trecho ligará a Rodovia Fernão Dias com vias já conectadas pelos trechos Oeste e Sul do Rodoanel, como Bandeirantes, Castelo Branco e Anhanguera. Foram construídos mais de 80 km – ao todo, o projeto prevê 176 km de estradas. A obra iniciou em 1998. Desde então, denúncias de superfaturamento circundam a construção.
A questão das desapropriações também tem mobilizado os moradores que serão atingidos pelas obras. O grande risco é que a via fracione os bairros de forma desordenada. Além disso, a carta afirma que as famílias não se sentem seguras quanto às medidas estatais.